sexta-feira, 18 de janeiro de 2013

WALMOR CHAGAS, ator, 82 anos

RIO - Walmor Chagas, de 82 anos, foi encontrado morto na tarde desta sexta-feira, no sítio onde vivia em Guaratinguetá, interior de São Paulo. Seu caseiro ouviu um disparo por volta das 17h30 e encontrou o corpo na cozinha da casa. A causa da morte ainda não foi esclarecida e vai ser investigada pelas polícias civil e militar, que isolaram o local para investigação.
Nascido no Rio Grande do Sul, em 1930, o ator se dividiu entre teatro, cinema e TV. Na televisão, Walmor estreou em 1965 na novela "A outra", na Tupi. No mesmo ano, esteve em "Teresa", na mesma emissora. Na TV Globo, fez longa carreira com sucessos como "Corrida do Ouro" (1974), "O Grito" (1974), "Locomotivas" (1977), entre muitas outras. Seus trabalhos mais recentes no canal foram "Páginas da vida" (2006) e "Pé na jaca" (2006). Em "A favorita", o ator se destacou numa participação especial como Dr. Dante Salvatore.
Na Record, fez alguns de seus últimos trabalhos: "Mutantes - caminhos do coração" e "Promessa de amor". No início da noite, a emissora enviou a seguinte nota de pesar: "Seu talento e a qualidade de sua interpretação contribuíram para o sucesso da novela na Record e da teledramaturgia brasileira. Externamos nossa solidariedade à família e aos amigos".
No cinema, sua última participação foi ao lado de Vladimir Brichta em "A coleção invisível" (2012), de Bernard Attal. Também figuram entre seus principais trabalhos os filmes "Beto Rockfeller" (1970), a adaptação "Xica da Silva" (1976) e "Banana split" (1988).
Sua estreia no palco foi em 1948, com a peça "Antígona", de Jean Anouilh, e dirigida por Guilhermino Cesar. Durante sua carreira, ele fez cerca de 50 espetáculos, chegando a atuar com Cacilda Becker, com quem foi casado, em "Esperando Godot". A atriz sofreu um aneurisma fatal no intervalo da peça, em 1969.
Walmor Chagas será o grande homenageado do Prêmio Shell de Teatro em 2013, conformefoi anunciado em dezembro de 2012.

Artistas e companheiros de trabalho lamentam a morte do ator:
Tony Ramos (ator): Fico muito emocionado. Quando você ouve fica meio sem chão. Quero lembrar deste grande ator com quem trabalhei algumas vezes. Minha primeira novela na TV Tupi de São Paulo foi com ele. Muitas coisas vêm à minha mente. Ele era muito culto, intelectual, bem informado. Walmor tem uma história rica principalmente por seu vasto conhecimento de grandes autores, escritores e dramaturgos. Tomei um susto com a notícia e ao mesmo tempo parece um filme que vai passando em nossas mentes. Quero que ele tenha um descanso mais que merecido e conto com a boa vontade da memória de todos os brasileiros para que lembrem sempre da importância deste ator.

Bernard Attal (diretor de "A coleção invisível"): Foi maravilhoso (trabalhar com ele). Ele fazia papel de um fazendeiro cego, e ele mesmo estava perdendo a visão. Ele foi muito generoso com Vladimir, queria fazer várias tomadas, apesar da idade. O filme tem outra dimensão por causa dele. Na época ele estava bem, ele tinha vontade de trabalhar mais, tinha muito tesão ainda pelo trabalho de ator. Ele foi em todas as estreias, deu entrevistas, tinha vontade de trabalhar. Pôs toda a família para assistir ao filme. A única tristeza que tive foi por achar que no Festival do Rio ele merecia o prêmio de melhor ator.

João Emanuel Carneiro (autor de novelas): Walmor era um ator extraordinário que fazia qualquer pequeno papel parecer grande.

José de Abreu (ator), via Twitter : Walmor Chagas. Grande sujeito. Me ensinou muito pra fazer o filme 'A intrusa', que me deu prêmio em Gramado e me trouxe pra Globo. Meu primeiro réveillon no Rio foi na casa do Walmor, em São Conrado. Na inauguração do Teatro Renascença de Porto Alegre eu produzi um espetáculo com Walmor e Paulo José. Os dois tiveram embates primorosos! Walmor tinha uma ironia fina, culta, inteligente. Disse que Paulo era o maior ator do Brasil e que tinha virado diretor pra não brilhar mais que Dina".

Eva Todor (atriz): Lamentamos a perda de mais um grande ator. Ele saiu cedo de cena, fez muita falta e agora vai fazer mais ainda.

Lucélia Santos (atriz): Fiquei muito emocioanda, como atriz e como colega de trabalho, sempre o considerei um dos maiores atores do Brasil e do mundo. Mais do que isso, era um dos melhores amigos da vida inteira. Não encaro a morte com tristeza, mas estou desestruturada por causa do impacto da notícia. Estou muito triste. Eu convivi muito com ele na TV, no teatro, fizemos "Locomotivas", e daquele momento em diante nunca mais nos separamos como amigos e colegas. Ele seguiu minha carreira e segui tudo o que ele fez. O caráter, a inteligência, sagacidade. Não existem tantos seres com Walmor no Brasil e no mundo.

Luiz Fernando Carvalho (diretor): Que perda, meu Deus! Ator sublime! Poeta! Um verdadeiro farol para mim. Quando o convidei para viver Dom Afonso em Os Maias, ele já havia se retirado, morava isolado, dizia não acreditar naquilo que havia se transformado o ofício dos atores. Eu apenas disse: venha me falar sobre a desilusão. Ele foi a luz de "Os Maias", a viga maior, o centro de tudo. Quanta saudade.

Alexandre Avancini (diretor): Um ator excepcional. Trabalhei algumas vezes com ele, dava um show quando entrava em cena. Todos ficavam boquiabertos diante de seu talento. Vai deixar saudade.

Marina Person (apresentadora e cineasta): Walmor sempre foi muito querido. Tive mais contato com ele quando rodei o documentário 'Person', sobre meu pai (o cineasta Luís Sérgio Peson). Walmor atuou em 'São Paulo S/A', dirigido por meu pai, e sempre disse que esse foi o filme da vida dele. Ele me ajudou em tudo o que eu precisei para o meu documentário.

Itala Nandi (atriz): A gente era muito amigo, nos conhecemos na década de 1960, quando ele era casado com Cacilda Becker. Nosso primeiro trabalho junto foi no teatro, na peça "Um equilíbrio delicado". No cinema fizemos Luz del fuego e na TV, fizemos marido e mulher em "Os mutantes", de 2009, a última novela dele. Ele era muito querido e um ator extremamente dedicado. Perde-se uma grande personalidade e eu perco um grande amigo.

B I O G R A F I A

Cursou a Faculdade de Filosofia da Universidade de São Paulo. Foi homem de teatro, com larga atuação, e era apontado como artista de indiscutíveis méritos e criador de personagens de impacto.
A estreia de Walmor Chagas no cinema aconteceu em 1965, quando interpretou o empresário Carlos em São Paulo S/A, de Luís Sérgio Person, e contracenou com Eva Wilma. O filme recebeu o Prêmio Cabeza de Palenque na VIII Reseña Mundial de los Festivales Cinematográficos de Acapulco, e a atuação de Walmor recebeu elogios do cineasta espanhol Luis Buñuel.
Na televisão, fez inúmeros personagens marcantes como o Fábio em Locomotivas, Alberto Karany em Coração Alado, Horácio Ragner em Eu Prometo, Oliva em Vereda Tropical, Afonso da Maia em Os Maias, Guilherme Amarante Paes em Salsa e Merengue e mais recentemente o Dr. Salvatore em A Favorita. Também participou de outras obras importantes na TV como Avenida Paulista, O Pagador de Promessas e Mad Maria.
Walmor Chagas era viúvo da atriz Cacilda Becker, com quem viveu durante treze anos - até a morte dela, em 1969. A união teve início em 1956, durante os ensaios de Gata em Teto de Zinco Quente, de Tennessee Williams, sob a direção de Maurice Vaneau. O casal tinha uma filha adotiva, a cantora Maria Clara Becker Chagas, conhecida como Clara Becker, nascida em 1964.

Morte

No final da tarde de 18 de janeiro de 2013, Walmor Chagas foi encontrado morto por um funcionário da pousada 7 Nascentes, de sua propriedade, em Guaratinguetá, no interior de São Paulo. Segundo informações do empregado, o corpo do ator foi encontrado no chão da cozinha com um tiro na cabeça. Segundo a polícia civil, a morte ocorreu entre 15h30' e 18h00', e, apesar da suspeita de suicídio, as circunstâncias da morte serão investigadas. 

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