RIO - Walmor Chagas, de 82 anos, foi encontrado morto na tarde desta
sexta-feira, no sítio onde vivia em Guaratinguetá, interior de São
Paulo. Seu caseiro ouviu um disparo por volta das 17h30 e encontrou o corpo
na cozinha da casa. A causa da morte ainda não foi esclarecida e vai
ser investigada pelas polícias civil e militar, que isolaram o local
para investigação.
Nascido no Rio Grande do Sul, em 1930, o ator
se dividiu entre teatro, cinema e TV. Na televisão, Walmor estreou em
1965 na novela "A outra", na Tupi. No mesmo ano, esteve em "Teresa", na
mesma emissora. Na TV Globo, fez longa carreira com sucessos como
"Corrida do Ouro" (1974), "O Grito" (1974), "Locomotivas" (1977), entre
muitas outras. Seus trabalhos mais recentes no canal foram "Páginas da
vida" (2006) e "Pé na jaca" (2006). Em "A favorita", o ator se destacou
numa participação especial como Dr. Dante Salvatore.
Na Record,
fez alguns de seus últimos trabalhos: "Mutantes - caminhos do coração" e
"Promessa de amor". No início da noite, a emissora enviou a seguinte
nota de pesar: "Seu talento e a qualidade de sua interpretação
contribuíram para o sucesso da novela na Record e da teledramaturgia
brasileira. Externamos nossa solidariedade à família e aos amigos".
No cinema, sua última participação foi ao lado de Vladimir Brichta em
"A coleção invisível" (2012), de Bernard Attal. Também figuram entre
seus principais trabalhos os filmes "Beto Rockfeller" (1970), a
adaptação "Xica da Silva" (1976) e "Banana split" (1988).
Sua
estreia no palco foi em 1948, com a peça "Antígona", de Jean Anouilh, e
dirigida por Guilhermino Cesar. Durante sua carreira, ele fez cerca de
50 espetáculos, chegando a atuar com Cacilda Becker, com quem foi
casado, em "Esperando Godot". A atriz sofreu um aneurisma fatal no
intervalo da peça, em 1969.
Walmor Chagas será o grande homenageado do Prêmio Shell de Teatro em 2013, conformefoi anunciado
em dezembro de 2012.
Artistas e companheiros de trabalho lamentam a morte do ator:
Tony Ramos (ator):
Fico muito emocionado. Quando você ouve fica meio sem chão. Quero
lembrar deste grande ator com quem trabalhei algumas vezes. Minha
primeira novela na TV Tupi de São Paulo foi com ele. Muitas coisas vêm à
minha mente. Ele era muito culto, intelectual, bem informado. Walmor
tem uma história rica principalmente por seu vasto conhecimento de
grandes autores, escritores e dramaturgos. Tomei um susto com a notícia e
ao mesmo tempo parece um filme que vai passando em nossas mentes. Quero
que ele tenha um descanso mais que merecido e conto com a boa vontade
da memória de todos os brasileiros para que lembrem sempre da
importância deste ator.
Bernard Attal (diretor de "A coleção invisível"): Foi maravilhoso (trabalhar com ele).
Ele fazia papel de um fazendeiro cego, e ele mesmo estava perdendo a
visão. Ele foi muito generoso com Vladimir, queria fazer várias tomadas,
apesar da idade. O filme tem outra dimensão por causa dele. Na época
ele estava bem, ele tinha vontade de trabalhar mais, tinha muito tesão
ainda pelo trabalho de ator. Ele foi em todas as estreias, deu
entrevistas, tinha vontade de trabalhar. Pôs toda a família para
assistir ao filme. A única tristeza que tive foi por achar que no
Festival do Rio ele merecia o prêmio de melhor ator.
João Emanuel Carneiro (autor de novelas): Walmor era um ator extraordinário que fazia qualquer pequeno papel parecer grande.
José de Abreu (ator), via Twitter :
Walmor Chagas. Grande sujeito. Me ensinou muito pra fazer o filme 'A
intrusa', que me deu prêmio em Gramado e me trouxe pra Globo. Meu
primeiro réveillon no Rio foi na casa do Walmor, em São Conrado. Na
inauguração do Teatro Renascença de Porto Alegre eu produzi um
espetáculo com Walmor e Paulo José. Os dois tiveram embates primorosos!
Walmor tinha uma ironia fina, culta, inteligente. Disse que Paulo era o
maior ator do Brasil e que tinha virado diretor pra não brilhar mais que
Dina".
Eva Todor (atriz): Lamentamos a perda de mais um grande ator. Ele saiu cedo de cena, fez muita falta e agora vai fazer mais ainda.
Lucélia Santos (atriz): Fiquei
muito emocioanda, como atriz e como colega de trabalho, sempre o
considerei um dos maiores atores do Brasil e do mundo. Mais do que isso,
era um dos melhores amigos da vida inteira. Não encaro a morte com
tristeza, mas estou desestruturada por causa do impacto da notícia.
Estou muito triste. Eu convivi muito com ele na TV, no teatro, fizemos
"Locomotivas", e daquele momento em diante nunca mais nos separamos como
amigos e colegas. Ele seguiu minha carreira e segui tudo o que ele fez.
O caráter, a inteligência, sagacidade. Não existem tantos seres com
Walmor no Brasil e no mundo.
Luiz Fernando Carvalho (diretor):
Que perda, meu Deus! Ator sublime! Poeta! Um verdadeiro farol para mim.
Quando o convidei para viver Dom Afonso em Os Maias, ele já havia se
retirado, morava isolado, dizia não acreditar naquilo que havia se
transformado o ofício dos atores. Eu apenas disse: venha me falar sobre a
desilusão. Ele foi a luz de "Os Maias", a viga maior, o centro de tudo.
Quanta saudade.
Alexandre Avancini (diretor): Um
ator excepcional. Trabalhei algumas vezes com ele, dava um show quando
entrava em cena. Todos ficavam boquiabertos diante de seu talento. Vai
deixar saudade.
Marina Person (apresentadora e cineasta):
Walmor sempre foi muito querido. Tive mais contato com ele quando rodei
o documentário 'Person', sobre meu pai (o cineasta Luís Sérgio Peson).
Walmor atuou em 'São Paulo S/A', dirigido por meu pai, e sempre disse
que esse foi o filme da vida dele. Ele me ajudou em tudo o que eu
precisei para o meu documentário.
Itala Nandi (atriz):
A gente era muito amigo, nos conhecemos na década de 1960, quando ele
era casado com Cacilda Becker. Nosso primeiro trabalho junto foi no
teatro, na peça "Um equilíbrio delicado". No cinema fizemos Luz del
fuego e na TV, fizemos marido e mulher em "Os mutantes", de 2009, a
última novela dele. Ele era muito querido e um ator extremamente
dedicado. Perde-se uma grande personalidade e eu perco um grande amigo.
B I O G R A F I A
A estreia de Walmor Chagas no
cinema aconteceu em
1965, quando interpretou o empresário Carlos em
São Paulo S/A, de
Luís Sérgio Person, e contracenou com
Eva Wilma. O filme recebeu o Prêmio Cabeza de Palenque na
VIII Reseña Mundial de los Festivales Cinematográficos de Acapulco,
e a atuação de Walmor recebeu elogios do cineasta
espanhol Luis Buñuel.
Morte
No final da tarde de
18 de janeiro de
2013,
Walmor Chagas foi encontrado morto por um funcionário da pousada 7
Nascentes, de sua propriedade, em Guaratinguetá, no interior de
São Paulo. Segundo informações do
empregado,
o corpo do ator foi encontrado no chão da cozinha com um tiro na
cabeça. Segundo a polícia civil, a morte ocorreu entre 15h30' e 18h00',
e, apesar da suspeita de suicídio, as circunstâncias da morte serão
investigadas.
Carreira
Teatro
Televisão
- Telenovelas e minisséries
- Programas
Cinema